Dia? Noite? Não sei.

Foi só um surto, eles disseram.

Não sei quanto tempo se passou, mas eu estou numa clínica, que parece mais uma prisão.

Há guardas por todos os lados, tenho horário para tudo, e apesar de dizerem que há outras pessoas eu nunca vi ninguém além dos guardas.

Me deram um caderno e disseram que eu posso escrever o que quiser, que vai me fazer bem, disseram que ninguém vai ler, mas aposto que assim que eu terminar de escrever e tomar por livre e espontânea pressão meu remédio noturno, alguém vai conferir linha por linha do que escrevi.

Não tem problema, nem faz diferença, eu não sei de nada, só escrevo para me manter lúcido, já que não tenho com quem conversar, os guardas não respondem e os médicos que aparecem de vez em quando só me perguntam se eu tomei os remédios coletam meu sangue e me deu comprimidos para a semana (?); se eu começo a falar demais sozinho aumentam as minhas medicações e eu começo a perder ainda mais a noção do tempo.

Acho que na primeira vez que comecei falar sozinho para lembrar o que são palavras me deram tanto remédio para dormir que devo ter dormido uma semana.

As vezes ouço sons vindos lá de fora, muito abafados, parece ter luz do sol entrando pelas janelas, mas eu tenho certeza que estamos no subsolo.

Apesar do medo constante, era mais confortável estar no mundo exterior.

Ainda não sei, ou melhor, sei menos ainda o que realmente aconteceu lá fora.

Me lembro de ter andado muito tentando atravessar o país, mas quando eu chegava perto do meu objetivo escolhido, a costa, tudo fica confuso e eu lembro de ter acordado uma vez em um navio com luzes muito fortes em meu rosto, logo depois já estava aqui.

Até a escrita é confusa, já que o tempo é confuso.

O tempo todo sinto como se tivesse algo entalado na garganta, e mesmo que eu beba toda a água que tenho a disposição, a sensação não passa.

Escrever realmente me ajudou, mas vou tomar o remédio logo antes que os guardas venham me pedir, a maneira que eles pedem nunca é confortável.

Espero ainda ter esse caderno amanhã, ou qualquer que seja a outra hora que eu acorde.

Dia 12

Uma noite de sorte. Há muito tempo, ou talvez nem tanto, eu não tinha uma noite tão agradável. Estar confortavelmente entorpecido faz uma diferença do caralho. Deixando de lado os meus devaneios, me levanto e bebo um mínimo de água. Tenho que racionar meus estoques. É hora de começar a busca, preparar para partir.


Dia 11

Que noite! Apesar de todo o planejamento, não consegui resultado algum. Ao que parece, há muitos sobreviventes por aqui. Não sei o que querem, o que pensam, ou qualquer outra coisa. Apesar dessa falta de conhecimento, eu instintivamente, não quero ficar próximo. Nunca gostei de grandes aglomerações e, agora lutando por minha sobrevivência, gosto menos ainda.

Noite 10

Dormir cedo hoje, foi uma das melhores coisas que já fiz. Estou bem descansado, mas me sinto estranho. Talvez o costume de não 'participar' da noite, seja a causa. Como das outras vezes, no meio da noite ouço o som de passos. Inicialmente fiquei paralisado pelo medo, mas mantive meu propósito firme.


Dia 10

Depois de dias complicados, finalmente uma noite tranquila, ou quase. Dormi bem, depois de me entregar a um coquetel de remédios. Nenhuma dor me incomodando, sem ventos fortes e tempestades. Até o meio da madrugada.

Dia 9

Provavelmente esse foi o dia mais difícil, desde que comecei a minha 'aventura' forçada. A comida acabou, descubro da pior maneira possível que a água do rio não é mais potável, minha única companhia desaparece e o clima, desde que acordei esteve só piorando.


Dia 8

Eu estou começando a achar que vou perder o meu pé, as dores gritantes que sempre se imagina de qualquer osso quebrado sem cuidados médicos aparecem pouquíssimas vezes o que me faz pensar em 2 opções, ou meu cérebro está bloqueando a dor ou eu estou perdendo as sensações na região do pé, mas ao menos assim consigo me locomover, mesmo que seja lento como uma tartaruga e de algum tempo pra cá sem a mínima noção de pra onde estou indo.


Dia 7

Pela primeira vez em muito tempo dormi bem, bem e muito mais do que eu deveria, não sei que horas são porém sei que passei da hora, o filhote ainda dormia quando acordei e por não ter condições de cuidar sequer de mim, resolvi deixa-lo por ai mesmo.


Dia 6

Depois de uma noite de pouco sono e muitos uivos, foi bom não ter que "dormir" mais, mal o sol nasceu e eu já estava com o pé no projeto de estrada correndo na medida que o terreno (e principalmente a falta dele) me permitiam e aparentemente seria um dia calmo.

Dia 5

Um dia viajando parando somente para descansar e me mantendo afastado de qualquer vestígio de civilização, o susto na última cidade é algo que não tenho a intenção de deixar se repetir e agora finalmente eu estou quase ao meu destino inicial, minha idéia fixa sem razão ou sentido.

Dia 3

Passar mais da metade de uma noite em claro é uma merda, principalmente quando você com certeza vai ter um dia de luta por sobrevivência pela frente e não está nem mesmo próximo da coisa que em outra situação poderia ser chamada de objetivo.

Dia 2

O que já não foi uma noite normal pelo meteorito se tornou mais estranha ainda pelos sonhos estranhos povoados de criaturas fantásticas todas elas me perseguindo, ficou ainda pior ao acordar e ver os 2 pneus da Harley completamente vazios.


Dia 1

Depois de toda a dificuldade para decidir o que fazer avançar, em direção à costa pareceu bem fácil, mas isso foram somente nos primeiros quilômetros enquanto ainda existia algum ânimo.

Dia 0

E quem esperaria que um simples erro em datas faria tantas pessoas se tranquilizarem e o "fim do mundo" ser ainda mais inesperado e caótico? Quem diria que 2012 realmente seria o fim da civilização humana como nós a conheciamos?