Depois de dias complicados, finalmente uma noite tranquila,
ou quase. Dormi bem, depois de me entregar a um coquetel de remédios. Nenhuma
dor me incomodando, sem ventos fortes e tempestades. Até o meio da madrugada.
Acordei com o barulho
de passos, arrastar de objetos e um grito repentino. Como agora, minhas
capacidades de locomoção estão bem reduzidas. Então resolvi permanecer onde
estava, quieto e silencioso. Apesar de estar atento a tudo que acontecia,
rapidamente adormeci, e somente no meio da manhã acordei novamente.
Meio da manhã eu digo, mas somente por estimativa, apesar da
sensação de ser dia (não me pergunte qual é essa sensação), tinha menos
iluminação que as noites escuras que passei antes do início da jornada, e uma
névoa me impedia de ver qualquer coisa a mais de meio metro de distância.
Andar com um pé
incapacitado já é difícil, pior ainda sem a visão completa, encontrei uma barra
de ferro no chão e uso como bastão guia, 'tateando' meu caminho a frente, para
evitar de 'perder' o outro pé. Não é uma tarefa muito agradável, além de o peso
da barra logo fazer a diferença.
Depois de algumas horas vagando, completamente sem rumo para
variar, o sol resolve aparecer, e a névoa começa a dissipar. A visão que tenho
agora, não é muito diferente do que vi anteriormente, a desolação da cidade é
ainda mais clara, e o silêncio chega a ser ensurdecedor. Continuo levando meu
bastão apesar do peso, nunca se sabe quando posso precisar.
Inicio uma busca por suprimentos. Entro em qualquer prédio,
casa ou porta que não esteja bloqueada, ou em estado de iminente desabamento,
não tenho muita sorte, parece que alguém já fez isso antes de mim e me deixou
com nada além de migalhas. Reúno minhas migalhas, e me guiando pelo cheiro e
brisa do mar, começo a procurar um abrigo próximo a o que algum dia foi uma
praia.
Me recolho mais cedo que o de costume, quero estar
minimamente descansado durante a noite. Se ouvir novamente passos, vou tentar
descobrir de onde vem, de quem são e o que buscam. Ficar me escondendo não vai
me ensinar nada, preciso entender o que há com as cidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário