Dia 10

Depois de dias complicados, finalmente uma noite tranquila, ou quase. Dormi bem, depois de me entregar a um coquetel de remédios. Nenhuma dor me incomodando, sem ventos fortes e tempestades. Até o meio da madrugada.


 Acordei com o barulho de passos, arrastar de objetos e um grito repentino. Como agora, minhas capacidades de locomoção estão bem reduzidas. Então resolvi permanecer onde estava, quieto e silencioso. Apesar de estar atento a tudo que acontecia, rapidamente adormeci, e somente no meio da manhã acordei novamente.

Meio da manhã eu digo, mas somente por estimativa, apesar da sensação de ser dia (não me pergunte qual é essa sensação), tinha menos iluminação que as noites escuras que passei antes do início da jornada, e uma névoa me impedia de ver qualquer coisa a mais de meio metro de distância.

 Andar com um pé incapacitado já é difícil, pior ainda sem a visão completa, encontrei uma barra de ferro no chão e uso como bastão guia, 'tateando' meu caminho a frente, para evitar de 'perder' o outro pé. Não é uma tarefa muito agradável, além de o peso da barra logo fazer a diferença.

Depois de algumas horas vagando, completamente sem rumo para variar, o sol resolve aparecer, e a névoa começa a dissipar. A visão que tenho agora, não é muito diferente do que vi anteriormente, a desolação da cidade é ainda mais clara, e o silêncio chega a ser ensurdecedor. Continuo levando meu bastão apesar do peso, nunca se sabe quando posso precisar.

Inicio uma busca por suprimentos. Entro em qualquer prédio, casa ou porta que não esteja bloqueada, ou em estado de iminente desabamento, não tenho muita sorte, parece que alguém já fez isso antes de mim e me deixou com nada além de migalhas. Reúno minhas migalhas, e me guiando pelo cheiro e brisa do mar, começo a procurar um abrigo próximo a o que algum dia foi uma praia.

Me recolho mais cedo que o de costume, quero estar minimamente descansado durante a noite. Se ouvir novamente passos, vou tentar descobrir de onde vem, de quem são e o que buscam. Ficar me escondendo não vai me ensinar nada, preciso entender o que há com as cidades.

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