Dia 9

Provavelmente esse foi o dia mais difícil, desde que comecei a minha 'aventura' forçada. A comida acabou, descubro da pior maneira possível que a água do rio não é mais potável, minha única companhia desaparece e o clima, desde que acordei esteve só piorando.


Acordo cedo como virou um costume nessa última semana, mas sem luz do sol, sem companhia do meu amigo urso e o iminente fim das minhas pequenas refeições. Mesmo com o céu completamente fechado e com cara de tempestade, não posso ficar parado e resolvo me movimentar logo apesar de estar quase sem meu pé. Volto para perto do rio e resolvo beber um pouco de água, antes de começar a descida realmente, logo descubro que foi uma das piores ideias que já tive, apesar de na boca o gosto estar normal, alguns minutos depois coloco para fora tudo que não tinha no estômago. Como não sei pescar, e provavelmente não deveria comer nada dessa água fudida, vou comendo em pequenos bocados o resto do peixe que sobrou de ontem, o que obviamente não dura muito.

Após o que eu calculo como sendo o meio dia, o clima, que já não parecia nada bom, começa a piorar, ventos fortes o suficiente para derrubar uma pessoa saudável, são ainda piores para alguém com somente um pé funcional, me abrigo um pouco na floresta que beira o rio. Quando digo pouco, quero dizer que realmente fiquei pouco tempo na floresta, mal me encosto em algumas árvores e já ouço uivos, e como todo viajante pós-apocalíptico solitário sabe, uivos não são bons sinais. Me equilibro como posso, e prossigo a descida.

Apesar dos ventos, consigo terminar o caminho ingrime, apesar de rasgar minha calça no final da 'trilha', pelo que avistei de cima, tenho que percorrer um projeto de floresta e a cidade litorânea estará logo a frente. Cidade, perigos diferentes dos que estou me acostumando, não me sinto com vontade de entrar em cidades desde o última vez que fiz isso. Mas agora não tenho outra alternativa, sem suprimentos e esse pé quebrado precisa de cuidados médicos, mesmo que sejam cuidados auto infligidos.

Apesar do receio, e do recorrente pé quebrado, rapidamente atravesso a floresta e começo ver a cidade, ou o que sobrou dela como percebo quando chego.

A visão não poderia ser outra, cidade e litoral completamente destruídos, maseu não imaginaria tanto, monumentos históricos que resistiram a séculos espalhados aos cacos pela cidade, os maiores prédios desabaram e os entulhos após serem arrastados pelo mar, bloqueavam ruas e áreas da cidade gerando lagos de água salgada provavelmente muito profundos, formados por uma barragens precárias de restos do que um dia foi o maior centro de negócios e um monumento da "grandeza humana", mesmo agora as ondas ainda atacam com força apesar de não chegarem tão longe.

Procuro comida em lojas de conveniência, muito pouco do que ainda resta é aproveitável, mas melhor do que passar fome, encontro também cigarros e uma última lata de cerveja quente no chão, aproveito essa sorte e me alivio um pouco, no pequeno hospital que encontro enfaixo o pé, estoco anestésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e durmo no sótão do mesmo, espero que nada ou ninguém tente me atacar durante a noite.

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