Dia 3

Passar mais da metade de uma noite em claro é uma merda, principalmente quando você com certeza vai ter um dia de luta por sobrevivência pela frente e não está nem mesmo próximo da coisa que em outra situação poderia ser chamada de objetivo.

Minha reserva de comida está quase no fim, estou numa estrada vazia com os 2 pneus vazios e nem cheiro de alguma cidade abandonada onde eu poderia reabastecer meus suprimentos e deixar a moto novamente em condições viáveis de se guiar em meio a esse mundo deserto.
Finalmente na metade do dia avisto algo que pode me ser útil, um lago quase seco e resolvo tentar pescar ou melhor dizendo entrar dentro d'água e tentar pegar peixes com as mãos, a água está quente, algo estranho levando em conta o ar frio e silencioso que sopra constantemente sem destino e sem razão.
Ultimamente sorte não é meu forte, levei quase 1 hora pra pegar um misero peixe, feio e com uma cara não muito apetitosa mas na hora da fome quem disse que você pode fazer alguma exigência? Acendo um fogo com cuidado já que o vento parece me amar e enquanto o demônio em forma de peixe fica assando tento pegar mais algum, quase 2 horas depois consigo outro, dessa vez maior e com aparência de um peixe realmente, como um pedaço do projeto de peixe corto o outro em tiras guardo na mochila e resolvo retomar a viagem, aparentemente tudo tranquilo e nenhuma tempestade querendo atrapalhar minha vida.
Pelos meus cálculos faltam pouco mais de 2 dias para chegar até a costa, se não fosse o problema com os pneus seria menos de 1 dia, não sei o que vou encontrar lá ou porque estou obsecado com isso mas eu tenho que chegar logo.
Faltando pouco tempo para o sol se por avisto ao longe o que parece ser uma cidade e resolvo seguir até lá e ver se consigo resolver minha vida ao menos temporariamente, chegando lá vejo a mesma cena que já era de se esperar, muitos prédios caídos, ruas lotadas de entulho, carros abandonados e um silêncio torturante, sigo rodando pela cidade em busca de algum tipo de oficina mecânica onde eu possa encher os pneus e ver se ainda estão inteiros, não foi muito difícil de encontrar e contrariando meu azar os pneus ainda estão em perfeito estado mesmo após rodarem por tanto tempo sem ar, resolvo passar a noite na própria oficina e explorar a cidade amanhã cedo e ver se encontro algo que possa me ser útil na viagem.
Quando já estava quase adormecendo ouço passos pela rua, um som que vai aumentando, começo também a ouvir gritos, tudo vindo em minha direção, sozinho no fim do mundo em uma cidade desconhecida contra sei lá quantos? Porra vida, o que eu fiz? Decido nem mesmo esperar para saber o que é, subo na Harley e aproveitando o seu estado perfeito corro para fora dessa cidade inferno acelerando como se não houvesse nada mais importante que isso.

Parece que vamos ser só eu e você por um bom tempo "diário", o mais próximo que tive de contato humano provavelmente queria me matar, então vou dormir novamente tendo a lua como companhia e amanhã de um jeito ou de outro vou chegar a costa.